Claro que isso ocorre no curto e médio prazos. A tendência é,
depois, a verdade se impor. Mas, antes disso, a dúvida de quem sabe que não
sabe o torna presa fácil da certeza dos que ignoram sua ignorância. Quem nunca
contratou um especialista de araque, ou perdeu uma vaga para alguém que fingia
um conhecimento que não tinha? O pior é quando a pessoa se convence de que sabe
mesmo. O que, infelizmente, é bastante frequente.
E, ainda assim, o conhecimento do nosso desconhecimento
talvez seja o mais importante de todos, porque é justamente ele que nos leva a
desejar aprender (nenhum plano educacional vence uma população que acha que já
sabe tudo). Mas, em contrapartida, essa ciência da não ciência é dificílima de
ser obtida. Há impedimentos materiais e morais. Quais são estes?
Materiais porque ignorância é um vazio de algo que não está
lá, então como enxerga-la? É necessário uma certa expectativa abstrata da
presença de uma coisa, para que se note sua ausência. Já o impedimento moral se
dá porque ignorância é uma falha (como qualquer falha pessoal) quase impossível
de se provar em quem não está disposto a admiti-la.
A realidade dos fatos pode acusar o fracasso prático
resultante do desconhecimento de quem fracassou, mas o fracassado sempre poderá
(e geralmente o faz) recusar essa atribuição. Ninguém quer um 7 x 1 nas costas.
A culpa não foi minha, eu tenho certeza da minha sabedoria, portanto é preciso
buscar a razão do fracasso em outro lugar. Provavelmente em você, que me acusa.
Portanto, se você, leitor, não está interessado em conhecer o seu
desconhecimento, pode parar por aqui. Mas, e se você estiver sinceramente
comprometido com essa busca, como fazer?
Um caso. A respeito do meu negócio, há uns anos me dei conta
que o modo de se comunicar com os clientes tinha mudado para sempre. Marketing
digital é o nome da trolha na qual eu tive de reconhecer que era uma nulidade
absoluta. Resisti a princípio, mas era isso ou morrer. Conclusão, procurei alguém
jovem que me ajudasse. Antes de finalmente encontrar alguém jovem que soubesse
o que estava fazendo (porque eles existem!), se passaram anos, milhares e
milhares de reais e vários “especialistas” de meia tigela.
E aí vem a dica para quem quer reconhecer sua ignorância:
todos tinham em comum uma total falta de curiosidade pelo que eu sabia do meu
negócio, existente há 16 anos. Aparentemente, o que eu pensava saber era o
problema, uma espécie de vírus a ser eliminado. Ou seja, indiferença pelo conhecimento
anterior. Sua chegada ao mundo mais ou menos inaugurava o que era preciso saber
do planeta. Outra similaridade, estavam deslumbrados demais consigo próprios e
com seu conhecimento teórico recém adquirido para perceberem que não sabiam aplica-lo
num caso prático específico. Havendo conflito (e sempre havia), era a realidade
que tinha de se curvar ao seu desconhecimento. O que evidentemente nunca
acontecia. E então eles partiam. Ainda bem!
É até indelicado da minha parte colocar dessa maneira,
mas você percebe em si mesmo doses expressivas de prepotência, soberba e falta
de humildade? Não tem trabalhado duro para que a humanidade e o mundo real finalmente
reconheçam o gênio que você sabe que você já é? Não se desespere. Rigorosamente
todo mundo já deu essa mancada em algum momento (e eu com certeza me incluo
nisso!) Só não fica insistindo nessa furada. E corre atrás.
O post Quem sabe que não sabe leva desvantagem com quem não sabe que não sabe apareceu primeiro em Crônicas Não branco Não homem.